sábado, 9 de maio de 2015

Você sabe sobre a leishmaniose visceral canina?

É uma doença séria que tem tratamento, mas não é recomendado pelo Ministério da Saúde



O mosquito palha tem como característica coloração
amarelada ou cor de palha (Foto: Senado)
Por Jennifer Lucchesi

Perda de peso, crescimento excessivo das unhas, lesões na pele, conjuntivite e queda de pelos são alguns sintomas da leishmaniose visceral canina, uma doença grave e desconhecida por muitas pessoas. Ela é transmitida pelo Lutzomyia longipalpis, popularmente conhecido como mosquito palha, e acomete órgãos internos do animal, como fígado e baço.

Segundo a médica veterinária Thais Eleonora Madeira Buti, da divisão de zoonoses de Sorocaba, a transmissão da doença para o humano acontece através da picada da fêmea do mosquito, que se contamina ao picar um animal infectado.

O diagnóstico da leishmaniose visceral canina se dá por meio de exames laboratoriais. Ainda de acordo com a veterinária, se a doença for comprovada, a orientação do Ministério da Saúde é que o animal não seja tratado com medicamento de uso humano. A recomendação é realizar a eutanásia.

Thais Buti explica que isso é por uma questão de evitar a resistência dos parasitos. “Vamos supor que usa um medicamento no cachorro, você sabe que as pessoas não usam no horário certo, ou às vezes elas não dão, ou o período não é tão adequado. E assim você vai criando um parasita que é resistente ao medicamento que você ia utilizar no humano; na hora que for usar no humano não vai funcionar mais”.
Ilustração de Eduardo Dias (Nucom/SVS) no informativo do
Ministério da Saúde, Leishmaniose Visceral

O biólogo da zoonoses de Sorocaba, João Ricardo Ennser, acrescenta que, além disso, ainda não existe a certeza de que o animal tenha a cura da doença, permanecendo com o parasita e transmitindo para outras pessoas. “Ele continua sendo fonte de infecção para o ser humano, apesar de clinicamente olhando ele estar bem, sem febre, sem inchaço do fígado, baço; só que estudos indicam que continua com o parasita em circulação na corrente sanguínea”.


Com uma visão diferente, outra médica veterinária relata sobre estudos mostrarem que alguns tratamentos têm dado bons resultados. Ela comenta que nunca pegou nenhum cão soro positivo, mas sabe de cães tratados que vivem bem e sem sintomas.

Ela conta também que o tratamento pode ser feito através de alguns medicamentos de uso veterinário, e existe o que é feito com o uso da Leishmune, uma vacina, inicialmente usada para prevenir a doença, mas neste caso usada para tratar. “Porém agora esta vacina está fora do mercado e não se sabe quando vai retornar”, informa a profissional que pediu para não ter o nome publicado.

A veterinária complementa que, se a pessoa tiver responsabilidade, ela é a favor de tratar o animal ao invés da eutanásia. “O maior problema é que a pessoa precisa ser muito responsável; o cão deve permanecer, mesmo sem sintomas, com a coleira que evita mosquitos e em um local com mosquiteiro. Deve ser feito um controle rigoroso para ele não disseminar a doença”, conclui.
Crescimento excessivo das unhas é um dos
principais sintomas da doença
 (Foto do site World Animal Protection)

Uma moradora de Bauru, que não quer ser identificada para não colocar em risco a vida dos seus cães com a questão do Centro de Controle de Zoonoses, diz que preferiu o tratamento porque o animal é uma vida. “É como um filho pra mim e porque eles são as maiores vítimas do descaso das autoridades em fazer um programa de erradicação da doença”.

Quando os exames deram resultados positivos, a proprietária do animal afirma que foi um momento desesperador, mas que não notificou nenhum órgão público. “Junto com o veterinário começamos tratar e ele reagiu rápido. Já faz oito anos e ele melhorou muito; está vivo e nem parece que tem a doença”, completa.

O cão toma remédio todos os dias, usa coleira que afasta o mosquito palha e faz exames periódicos. “A doença não tem cura e, como a AIDS, tem só paliativo pra prolongar a vida”, finaliza.


Pedido judicial

O informativo do Ministério da Saúde, sobre a leishmaniose visceral, diz que os proprietários de cães devem “permitir o acesso das autoridades sanitárias ao seu domicílio, para testagem dos cães e recolhimento dos que estiverem com a doença”, e “comunicar a Secretaria Municipal de Saúde caso o animal esteja infectado”.

Entretanto, o tratamento pode ser feito através de autorização judicial e, desde que o dono tenha interesse em fazê-lo, ele tem o direito de buscar os recursos necessários.

De acordo com um artigo publicado no portal Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA), Verdades e mentiras sobre a leishmaniose canina, a pessoa não é obrigada a entregar o animal aos fiscais da saúde pública, já que o cão é da responsabilidade do proprietário. “Nem mesmo um delegado de polícia pode ir a sua casa e exigir que você entregue seu animal. Para sua informação, um delegado ou um policial só podem entrar na sua casa com um mandado judicial ou com sua autorização”, complementa.


Casos da doença

A cidade de Sorocaba, de acordo com o Jornal Cruzeiro do Sul, teve o primeiro caso de leishmaniose canina em 2012. Hoje, possui alguns exames de sorologia reagentes, mas o exame que marca propriamente como transmissão canina não foi possível realizar, devido à técnica de difícil execução.

Como políticas públicas adotadas na cidade, a veterinária da zoonoses informou que eles tiveram uma conversa com médicos veterinários, orientando-os para a suspeita da doença e o processo que precisa ser feito através da zoonoses. “Uma capacitação da rede de clínicas da cidade para, tendo um cachorro suspeito, saberem o caminho a seguir”.

Além disso, a Superintendência do Controle de Endemias (Sucen) faz periodicamente uma pesquisa para saber onde na cidade tem o mosquito vetor. “E isso a gente vai acabar absorvendo, daqui para frente quem vai fazer é o município, essa pesquisa de vetor, para saber onde ele está”, informa.

Tendo uma distribuição geográfica dos vetores, consegue uma vigilância em relação aos possíveis casos existentes.


Prevenindo a leishmaniose visceral canina


Algumas medidas possíveis de prevenir a doença são:

- vacinação
- Uso de coleira que evita o mosquito transmissor
- Manter quintal e canis limpos e com telas
- Evitar folhas e frutos no quintal, já que esse mosquito se cria na matéria orgânica, em local sombreado e mais úmido.



Para saber mais, pode acessar o Portal da Saúde e conferir os dados da leishmaniose, como por exemplo a tabela de casos confirmados da doença no Brasil, nas grandes regiões.

Ou então o Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA), com a classificação epidemiológica dos municípios.



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